segunda-feira, 4 de maio de 2009

Caos em Jaboatão - Prédio Interditado

Prédio interditado em Jaboatão
Pânico // Moradores deixaram os seus apartamentos depois que ouviram estalos e viram pedaços do reboco caindo


Pesar, tristeza, revolta e, por incrível que pareça, conformação. Os sentimentos se misturavam entre os moradores do bloco 155 do Conjunto Muribeca, um aglomerado de edifícios populares em Jaboatão dos Guararapes, onde não faltam histórias de prédios condenados.

Bloco 155 foi desocupado e avaliado ontem por equipe da Defesa Civil do município, que condenou a estrutura cheia de rachaduras e com um afundamento de dez centímetros. Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press
Até sábado, dos 70 blocos inaugurados em 1982, um havia sido demolido e cinco interditados. Ontem, o de número 155 entrou para a segunda estatística, com altas chances de ir ao chão. Pela manhã, alguns dos mais de 94 moradores olhavam, do lado de fora, a edificação que horas antes começara a sucumbir. Muitos tinham no semblante um lamentar resignado de quem parecia saber que um dia isso ia acontecer. Por volta das 0h de ontem, o desespero tomou conta das 32 famílias que ali moravam. Muitos dormiam. Despertaram com os estalos ou gritos dos vizinhos. Para quem havia se deitado na noite anterior com a certeza de que estava tudo bem, abrir a porta de casa nessa madrugada foi o mesmo que entrar acordado em um pesadelo.

Fendas surgiram nas paredes, chão etetos. A parte do prédio que fica voltada para a avenida principal afundou dez centímetros, inclinando-se na direção do bloco 125. Nas paredes, as rachaduras tinham até cinco centímetros de espessura. O risco de desabamento atingiu o ponto mais alto de uma escala que vai de um a quatro, em ordem crescente de perigo. E mesmo sem um laudo definitivo, a equipe de Defesa Civil do município já previa o pior. Há risco de pelo menos uma parte do bloco 155 precisar ser demolida. Caso aconteça, levará junto sonhos e histórias de gente que juntou as economias ou fez empréstimos para investir no que, para muitos, parecia um bom negócio. Um apartamento no local custa entre R$ 8 mil e R$ 14 mil. Ninguém ficou ferido.


A moradora Verônica Gomes comprou um apartamento no prédio há apenas 15 dias e ficou desesperada. Foto: Inês Campelo/DP/D.A Press
Sem sono, Maria do Carmo da Silva, 62 anos, levantou, tomou uma xícara de café e foi encostar-se à janela de sua sala, no apartamento 203, que fica no 1° andar da parte que afundou, para fumar um cigarro. "Ouvi um barulho grande. Achei que estavam jogando pedras no telhado. Quando levantei os olhos, vi pedaços pesados de reboco caindo", disse. Foi quando ela começou a gritar: "Meu Deus do céu, o bloco está desabando". Aos berros, ela, o marido de 74 anos, uma filha de 40 e uma neta de 9 anos desceram as escadas, avisando os vizinhos. Assustada, a neta Mariana saiu de calcinha, enrolada num lençol, quando lembrou do seu cachorrinho Apolo e voltou para pegá-lo. Uma das filhas de Maria estava inconformada. Segundo Valderez de Lima, 42 anos, há cerca de três meses uma equipe da Defesa Civil havia vistoriado a edificação durante um trabalho de avaliação que previa a análise de 1,2 mil imóveis em Jaboatão. O resultado, segundo ela, seria cômico se não fosse triste. "Disseram que este era um dos melhores blocos do conjunto. Que a rachadura do quarto do meu pai não era nada", contou.

O afundamento do bloco levou a Defesa Civil a interditar sete construções (garagem, salão de beleza e comércios) que ficam ao lado do edifício e a recomendar que os moradores de duas casas e dos 16 apartamentos de uma parte do bloco 125 saiam por pelo menos três dias. "Se em 48 horas, o bloco mostrar que estacionou (não está mais afundando), o pessoal recomendará o retorno", contou o coordenador da Defesa Civil do município, Artur Paiva. Ele disse que não sabia do resultado da vistoria citada por Valderez. Verônica Gomes, 43, é dona de uma garagem interditada e do apartamento 302 do bloco 155. A compra foi feita há apenas 15 dias e custou R$ 14 mil. "Eu estava dormindo. Peguei a TV e o som e desci. Estou aqui desesperada", disse. "Às 20h, fomos dormir e não tinha nenhuma rachadura. Acordei com a vizinha batendo na porta e dizendo que o prédio ia cair", afirmou Helga da Silva, que morava com o marido e o filho de 10 anos no local. (Juliana Colares).

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